12 novembro, 2018

Intervalos de Referência para Homens Trans

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Testosterona Injetável

Hoje me deparei com um post muito interessante do Jeff SoRelle,publicado no Lablogatory " Lab Value Changes in Transgender Males". Uma vez que este post reune dois dos meus temas de interesse, resolvi me aprofundar nele.

Pacientes com disforia de gênero podem ser tratados com hormonioterapia focada no desenvolvimento de características sexuais secundárias do gênero almejado (procedimento este aceito pela Endocrine Society - diretrizes de 2007 revisadas recentemente).  
Para homens trans, a testosterona é prescrita de forma injetável, intramuscular ou subcutânea, em doses muitos superiores (50 - 100 mg/dose) àquelas aplicadas em homens cis que sofrem de deficiência de testosterora (30-50 mg/dose). Evidentemente, os homens cis iniciam o tratamento com níveis maiores de testosterona.
O tratamento se inicia, em geral, com injeções a cada uma ou duas semanas, e as características secundárias começam em 3 a 6 meses, em geral se desenvolvendo  plenamente após tres anos. A tabela abaixo mostra as alterações esperadas quanto ao fenótipo. 
Efeito FísicoInícioEfeito Máximo
Pelo facial e corporal6-12 meses4-5 anos
Acne e pele oleosa1-6 meses1-2 anos
Perda de cabelo - alopécia6-12 meses
Aumento da massa muscular6-12 meses 2-5 anos
Redistribuição da gordura 1-6 meses2-5 anos
Cessação da menstruação1-6 meses
Mudança da voz - Grave6-12 meses1-2 anos
Assim como ocorrem alterações no fenótipo, a terapia hormonal deve afetar a fisiologia, e a decorrente monitorização laboratorial. A Endocrine Society recomenda dosagem de Testosterona e de Hematócrito a cada 3 meses no primeiro ano, e daí em diante a cada 1 a 2 anos. O Perfil Lipídico também deve ser avaliado e monitorado. 
Espera-se aumento dos níveis de hemoglobina e hematócrito, devido 'a ação hematopoiética da testosterona. Em teoria, poderia ocorrer policitemia, mas esta complicação não tem sido descrita com frequência. 
Contudo, há relatos divergentes de  alterações significativas dos níveis de LDL e Triglicerídeos. Uma vez que as diretrizes referentes ao risco cardiovascular são baseadas em Limites de Decisão e não em Intervalos de Referência, é recomendável a avaliação individualizada. 
Observa-se também, naturalmente, elevações da creatinina sérica (correlacionada com o aumento da massa muscular?).
Ainda não podemos dizer se os Intervalos de Referência de exames laboratoriais adotados a partir de homens Cis são ou não adequados para os homens trans. SoRelle promete uma publicação sobre o tema, em breve.

Referências
- Hembree WC, Cohen-Kettenis PT, Gooren L, Hannema SE, Meyer WJ, Murad MH, et al. Endocrine Treatment of Gender-Dysphoric/Gender-Incongruent Persons: An Endocrine Society* Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2017
- Wierkx K, et al. Cross-Sex Hormone Therapy in Trans Persons is Safe and Effective at Short-Time Follow-Up: Results from the European Network for the Investigation of Gender Incongruence. J Sex Med, 2014. 11(8):1999-2011.
- Mueller A, Kiesswetter F, Binder H, Beckmann MW, Dittrich R. Longer-term administration of testosterone undecanoate every 3 months for testosterone supplementation in female-to-male transsexuals. J Clin Endocrinol Metab. 2007
- Paller CJ, Shiels MS, Rohrmann S, Menke A, Rifai N, Nelson WG, et al. Association Between Sex Steroid Hormones and Hematocrit in a Nationally Representative Sample of Men. J Androl. 2012 33(6): 1332-1341
- Fernandez JD, Tannock LR. Metabolic Effects of Hormone Therapy in Transgender Patients. Endocr Pract. 2016;22:383–8.






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